domingo, 22 de agosto de 2010

O amor faz milagres


A poucos dias eu vi o episódio final de cavaleiros do zodíaco: o prólogo do céu. É estranho para uma fã como eu ter demorado tanto tempo pra ver (que falta que um computador faz...). Mas finalmente consegui assistir. E acho que finalmente o Kurumada acertou a mão. O filme é uma síntese quase perfeita do que foi a série. E teve um final muito emocionante pra quem conseguiu captar a mensagem de Saint Seiya.

O filme começa com um Seiya em coma e Atena dando o seu Báculo para sua irmã Ártemis, e decide oferecer sua vida para salvar os santos de bronze. Eles nunca mais lutariam. Esse era o acordo. Mas quando os bronzeboys se rebelam, Atena tem que derramar seu sangue pela vida deles e de toda a humanidade.

É a partir daí que todo o drama começa. Os cavaleiros estão muito fracos. Alguns chegam a trair Atena, jurando lealdade a Ártemis. Mas os que lutavam no santuário, sem entender o que acontecia, não eram mais cavaleiros. Não deveria mais haver lutas. Era para isso que Saori tinha oferecido sua vida. As almas dos cavaleiros de ouro foram seladas pelos deuses. E é aí, de forma clara e límpida, que se mostra o principal elemento que faz de Saint Seya uma obra tão emocionante: eles não lutavam mais por ideologias. Os sentimentos de fidelidade cega, ou orgulho, não estavam mais presentes. Eles lutavam, mais do que nunca, por uma única coisa, que unifica e é fonte de toda a nobreza de alma e caráter, e de toda a virtude que um homem pode ter: lutavam por amor

O amor, de uma forma geral, sempre esteve presente em Saint Seiya. Mas nunca foi mostrado de forma tão profunda e clara. Mais que um filme,prólogo do céu é uma poesia que canta o amor. E o filme mostra o amor em todas as suas dimensões: o amor filia, de Shun para Ikki, e de Ikki para Shun; o Eros, entre Seiya e Saori que, se havia algum resquício de dúvida que existia, some completamente; e finalmente o amor ágape, o mais perfeito, o mais sublime, que pulsa do coração de Seiya e Saori por toda a humanidade. Mas esse ágape só é mostrado no final . No começo do filme, Saori demonstra um profundo amor pelo Seiya, e é por esse amor que ela se sacrifica a si mesma para protegê-lo. Mas esse amor é imperfeito, porque não respeitou o livre-arbítrio dele, a profunda vontade que brotava do seu íntimo de lutar sempre, em todas as circunstâncias, por ela. O amor que permite ao outro ser livre para sofrer, mas também para ser plenamente um ser humano.

Seiya não consegue mais lutar. Seu corpo pede, implora pra ele parar. Já chegara ao seu limite. Mas Seiya, com uma caridade inabalável, ordena e controla o seu corpo: mexa-se! É o milagre que um coração abrasado de amor pode fazer. Quando ele finalmente encontra Saori, aceita amorosamente morrer pelas mãos dela. Ele já não lutava mais por Atena. Lutava por Saori. Por sua Saori. Ela não queria matar Seiya; seu plano era apenas quebrar a maldição de Hades. E foi a confiança gerada pelo amor que fez com que Seiya aceitasse ser transpassado pelo Báculo. Recuperando todo o poder do seu cosmo, Seiya volta a lutar com toda a sua força. E a nudez dos dois personagens não é coincidência. Assim como Shiryu que, despido de sua armadura, alcançava seu cosmo máximo, Seiya e Saori, despidos de todos os sentimentos secundários, dão-se um ao outro e dão-se para salvar a humanidade.

O anjo irmão de Marin, Touma, olha pasmo para Seiya. O que faz este home lutar com tanta coragem e persistência? Ele, que desejava matar Seiya para ser um Deus e que, para isso, tinha abdicado de todos os sentimentos humanos, não percebia que eram justamente esses sentimentos, desprezados pelos deuses do olimpo, que faziam com que aqueles jovens cheios de esperança e fé conseguissem os milagres que conseguiam. Era a força do amor, nascida de um coração incorruptível, que impulsionava os santos a vencer. Touma então percebe o grande erro que cometera: Ele queria ser forte para proteger sua irmã. Mas foi esquecendo-a aos poucos, com a ambição de se tornar um deus, que se tornou fraco.

e surge o temido Apolo. Ele representa mais ou menos o que é o olimpo: um lugar cheio de deuses mesquinhos e sem sentimentos. É exatamente a visão que os gregos tinham. Diziam eles: “os deuses devem ter temidos e adorados”. Apolo, com toda sua realiza, diz que a eternidade é o que há de mais precioso. E Apolo se mostra um deus tolo. Só pode ser eterno quem ama. O amor sim é eterno. De que vale a eternidade, de que vale ser um deus, se não se tem a coisa mais preciosa do universo? O filme acaba em tom de mistério, se mostrar o que aconteceu no final. Mas, há se julgar pelo título do filme, e também pela última cena que se passa depois dos créditos, eu penso que o amor triunfou.

Talvez Kurumada tenha feito isso de propósito.Pra despertar um pouco dessa esperança em que eram tão ricos esses jovens: que tudo tenha terminado bem, que a paz tenha voltado à terra, que os cavaleiros de ouro tenham seu merecido descanso. E que Seiya, Saori, Ikki, Shun, Shiryu e Yoga tenham desfrutado da paz que só a infinitude eterna do mais sublime amor pode dar.