sábado, 1 de fevereiro de 2014

Nos Jardins da Amizade



O diálogo entre a raposa e o pequeno príncipe na exuberante Obra-Prima de Antoine De Saint-Exupéry é imensamente significativo. Cada amizade é insubstituível. Desde o nascimento até a morte, muitas pessoas passam na nossa vida e depois vão embora, mas cada uma deixa uma marca que a faz ser toda particular. E a única pessoa que não passa é Deus. Mas gostaria de falar um pouco das amizades terrenas.

Quando eu era criança, tudo era mais fácil e descomplicado. Sinto que, à medida que vou ficando mais velha, as coisas se complicam cada dia mais. E eu só tenho 24 anos! Os adultos conseguem transformar coisas simples em grandes e complicadas equações matemáticas. Mas a vida não segue a lógica da matemática. Nossas relações humanas tornam-se um emaranhado de emoções com as quais não sabemos lidar. Amamos, somos amados, e ainda assim nos afastamos daquela pessoa que é única, e que se a perdermos, o vazio que ela deixará só será preenchido por Deus na outra vida. Perder um amigo é uma das coisas mais tristes que há nessa vida. E não é incomum haver muito amor entre dois amigos que se perdem; mas o egoísmo, o egocentrismo e a falta de um coração aberto ao sentimento do outro parecem soterrar esse amor. Duas crianças brigam, e dez minutos depois já estão brincando juntas; dois adultos brigam e passam cinquenta anos sem se falar, preocupados mais em jogar a culpa um no outro do que tentar resgatar aquele amor que está por debaixo dos escombros da amizade desmoronada.

O tempo que nos dedicamos a uma amizade é a que a faz tão especial. Somos normalmente mais atraídos aos que nos são iguais; mas não há amizade mais firme, bela e apaixonante do que aquela que é trabalhada no dia-dia, nas diferenças, nas desavenças... Brigamos com nosso amigo, temos consciência dos seus defeitos, mas perdoamos e somos perdoados. Dizemos: " eu odeio isso em você, mas meu amor me faz preferir ficar ao seu lado, aceitando com paciência, porque a dor de estar longe de você é muito maior do que a dor que essa imperfeição que você trás consigo me causa". Eu percebi que amava de verdade quando até o defeito de uma pessoa me trazia uma pontinha de prazer no final. Porque o final é sempre o perdão, ainda que silencioso. Todas as demais pessoas que eu amei, eu amei naturalmente; Me foram sempre muito agradáveis. Suas companhias sempre foram valiosas. Mas há quem eu tive que aprender a amar no dia-dia, e foi como um grão de mostarda: a menor das sementes, que se tornou a mais majestosa das árvores.

Aquela pessoa que você não se importa muito no início pode tornar-se a mais bela flor do seu jardim. É por isso que, no nosso jardim, devemos regar as pequenas margaridas com tanto amor e dedicação quanto as preciosas e ricas rosas. Nunca sabemos quando aquela margarida pode ser o centro do seu jardim. É por isso que tenho tanta saudade daquele coração infantil. As crianças não tem tantos olhares críticos quanto nós. Se acham algo belo, agarram-se a esse objeto e não largam mais. Mas nós, adultos desmiolados, encontramos diamantes e passamos sem perceber. Trabalhamos a terra para que dê bom fruto, mas deixamos as ervas daninhas crescerem e sufocarem o bom fruto. Permitimos que nossos sentimentos desregrados e egoístas deixem aquela pessoa tão única e insubstituível partir. Ou nós mesmos nos afastamos, quando tudo o que queremos é estar perto...






Que Deus, o único amigo que não nos abandona mesmo quando queremos, no dê um coração tão infantil que não permita que nosso egoísmo seja maior que nosso amor. E que nos ensine sempre a perdoar e saber ser perdoados. Não há amizade sem perdão.