quinta-feira, 14 de outubro de 2010

E aí me dá uma tristeza no meu peito...


Caminhando e cantando e seguindo...epa! Isso não!

Hoje eu estava voltando do trabalho e indo na casa do Hudson. Passando pela janela do meu ônibus belos ipês com suas flores desabrochando, uma mais bonita que a outra. Todas juntas formavam uma bela paisagem, um jardim em frente ao aterro do flamengo e ao pão de açúcar. Mas esta não é uma paisagem do meu cotidiano. Estou mais acostumada aos belos amontoados de concreto que compõe o subúrbio. Ah... o meu subúrbio! Por mais que um dia eu queira sair dele, não dá pra passar despercebido o seu ar nostálgico, triste, sossegado... uma paisagem única, um clima único, que só quem já foi ao subúrbio sabe o que é. O subúrbio consegue reunir um pouco do interior e um pouco da cidade grande dentro de si. Pelo menos esse é a parte do subúrbio que eu gosto, aprecio e comtemplo. Mas, por mais difícil que seja, tenho que admitir: este clima está cada dia mais escasso nas ruas e becos do subúrbio.

Tem certos dias em que eu penso em minha gente
e sinto assim todo o meu peito se apertar
porque parece que acontece de repente
como um desejo de eu viver sem me notar

igual a como quando eu passo no subúrbio
eu, muito bem, vindo de trem, de algum lugar...
e aí me dá uma inveja dessa gente
que vai em frente, sem nem ter com quem contar.

São casas simples, com cadeiras na calçada
e na fachada escrito em cima que é um lar
pelas varandas, flores tristes e baldias
como a alegria, que não tem onde encostar

E aí me dá uma tristeza no meu peito
feito um despeito de eu não ter como lutar
e eu que não creio, peço a Deus por minha gente
é gente humilde, que vontade de chorar.

Esta letra de Vinícios de morais sincretiza bem o que já foi o subúrbio. Foi neste contexto que nasci e fui criada. Minha geração foi a última a vivenciar este cenário único. E hoje, passeando por uma típica rua suburbana, meus olhos já não podem mais ver as cenas que inspiraram este poema.

Essa gente vai em frente. Mas já não tem mais direção. Famílias destroçadas, num processo que aconteceu já na minha infância (aliás, eu tive o privilégio de vivenciar um pouco do clima do passdo, nascendo numa nova geração. mas talvez isso não seja um privilégio).

Casas simples dão lugar a um amontoado de barracos em inúmeras favelas que não páram de crescer. Na minha época, era bem menos. Eu ficava surpresa quando tinha um coleguinha que me dizia que morava em uma favela. Agora, ao contrário, parece que eu sou a excessão. Cadeiras na calçada dão lugar a janelas e grades de segurança, muitas vezes inúteis. Quantas tardes não fiquei na rua brincando até o anoitecer, vendo as pessoas mais velhas colocando seus banquinhos de frente para o portão tomando uma fresca, enquanto conversavam sobre algum assunto banal, esperando a famigerada malhação acabar para retornarem e assistir a novela das seis. Pois é. N a minha geração, ainda se brincava na rua. Tínhamos super nintendo, televisão e fliperama. Mas nada disso nos impedia de pular corda, jogar queimado, correr num alucinante polícia e ladrão, saltitar num pique alto, botar nossos conhecimentos pra fora jogando adedonha e pensando como não ir a falência e ser um grande empresário no banco imobiliário. E esta geração, que faz? trancada em seus condomínios, brancas, não por ser sua cor natural, e sim pela falta de sol. Revezam-se entre escola-playstation-computador. Esse é o cotidiano dos meus sobrinhos, e da maioria das crianças que conheço. É triste, mas essa geração nunca vai saber a alegria de terminar uma tarde pulando amarelinha até chegar ao céu.

Fico pensando no que Vinícios diria se visse o subúrbio de hoje. Já há flores bucólicas, já não há mais o clima nostálgico. Há só uma pseudo-alegria que nunca foi típica daqui: uma juventude se acabando nos funks da vida. A tristeza suburbana, a verdadeira, é mais alegre que esta alegria fajuta. Pois era algo nosso, que vinha de dentro. As tardes tinham o odor da saudade. Saudade que não tinha explicação. Saudade que invade meu peito hoje, ao sentir este odor cada vez mais raro.

Passeando por essas ruas, uma imagem triste: casas simples, com cadeiras na calçada. Mas estavam na parte de dentro. Dois senhores de idade conversando algo banal, dentro de suas grades. Não, este não é o meu subúrbio.

Da letra de Vinícios, apenas uma coisa se encaixa ainda neste contexto:

E aí me dá uma tristeza no meu peito...

Um comentário:

  1. Poizé...
    Me lembro da minha epoca de criança, em que eu chegava do colegio as 17:30, sentava no sofá ainda com o uniforme e via "Cavaleiros do Zodiaco", "Changeman", "Kamen Rider Black", "Shurato" e outros animes e Tokusatsus na Rede Manchete! Depois disso, aí sim eu pensava em tomar banho pra depoooois poder sair pra brincar na rua.

    E era aquela mesma rua lotada de crianças por todos os lados! Brincando de pique-esconde, futebol, pique-pega, gude, pipa(uma das tradições que ainda não se foi), Pera uva maçã e salada mista(Molejããããão) e etc etc etc. Realmente era algo incrivel...

    Mas os tempos mudam minha amiga...
    As ruas estão violentas e as mães(pelo menos as mais zelosas) não confiam mais suas crianças nas ruas brincando das coisas citadas acima... infelizmente =\

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